Historia de vida - I
O Escritor, advogado e foi um “pardo que sempre prestigiou as organizações dos pardos” na cidade de Porto Alegre. Nas primeiras décadas do século XX, foi um dos responsáveis pela manutenção do jornal O Exemplo, fez parte dos quadros sociais do clube Floresta Aurora e advogou em defesa das causas da comunidade negra da capital.
A expressão eminência duplamente parda, teria sido uma alusão bem humorada feita por Dario de Bittencourt sobre o seu avô Aurélio Viríssimo de Bittencourt. Ele fazia referência mais do que à cor parda de Viríssimo, a certa influência política e na forma de administrar que este exercera, como secretário particular, nas administrações de Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros.
Ele monta um arrazoado cronológico sobre si que comprove não apenas os laços profissionais, mas principalmente, a sua origem familiar privilegiada e as relações intelectuais, étnicas, religiosas, políticas e afetivas que o ligaram a uma rede de pessoas. Algumas são pessoas humildes e desconhecidas e outras, na maioria das vezes, personagens importantes na vida intelectual e política do Estado e do país que dão relevância ao curriculum e perenidade ao nome do biografado.
A sua descrição perpassa por diploma de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, certificado de livre docente da Faculdade de Direito de Porto Alegre, decreto presidencial de Suplente do Conselho Regional do Trabalho da 4ª. Região, convite para ser imperador festeiro da Irmandade do Divino Espírito Santo, documentos que comprovam ter ocupado a chefia provincial dos integralistas no Estado, várias referências bibliográficas e hemerográficas que fazem referência à sua circulação intelectual, bem como, a de seu pai e avô.
Nos anos de 1911 e 1912, Dario estudou no Conceição, últimos anos em que o internato funcionou e onde ele obteve as melhores notas da turma em Português, nos sugerindo o resultado do contato aproximado com os livros e os ensinamentos do pai e familiares. Aurélio Júnior junto com seu irmão Sérgio e outros foram fundadores do jornal O Exemplo, em 1892, como se lê na primeira página, criado para a defesa de nossa classe e o aperfeiçoamento de nossos medíocres conhecimentos. A classe dos homens de cor ou pardos, já inseridos na sociedade, pois sabiam ler e escrever, o que era domínio de poucos, vinha à público com muita humildade, para serem vistos e copiados como modelos e exemplos de que era possível a ascensão social dos negros.
Nesse número, os dois representantes dos Bittencourt fazem parte da comissão de redação, responsáveis por receber e analisar as reclamações e as contribuições da parte literária do jornal. Ambos também assinam colunas, poesias e charadas no semanário. Dario se definiu como pardo que sempre prestigiou as organizações dos pardos11, fez parte do quadro social da Sociedade Beneficente Floresta Aurora, fundada
em 1872, participou do Conselho Superior da Liga Nacional de Futebol Porto-Alegrense, fundada em 1919, para congregar times formados com jogadores negros, foi sócio da Sociedade Satélite Porto Alegrense, de 1902, que hoje é conhecida como Satélite Prontidão e, finalmente, fez parte do Grêmio Náutico Marcílio Dias. A ampla circulação no meio negro da capital atesta a sua condição e opção, se é que se pode optar numa sociedade racista, por uma identidade étnico-racial subalterna e marginalizada. A sua auto-definição como pardo remetia à situação social e racial intermediária de uma elite negra que procurava ascender e inserir-se socialmente, não apenas em virtude da situação econômica e intelectual, mas sobretudo no sentido de se distinguir da maioria negra, ainda muito vinculada ao período anterior da escravidão.
Continua...
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