quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Origem dos quilombos urbanos no Rio Grande do Sul


As cidades sulinas contavam com uma grande concentração de escravos africanos. Muitos deles, ao fugir da opressão de seus senhores, escolhiam não abandonar o espaço urbano, já que estavam pouco habituados ao modo de vida rural. Assim, muitos dos escravos fugidos se faziam passar por libertos, contando com a colaboração de ex-escravos alforriados, cativos e também alguns senhores, que eram cúmplices desses agrupamentos (MAESTRI, 2005: 298). Eles sobreviviam de maneira precária por meio da rapinagem, da prestação de serviços e de pequenas atividades mercantis.
Uma das comunidades negras urbanas mais conhecidas do período escravista é o quilombo do Negro Lucas. O quilombo encontrou abrigo na Ilha dos Marinheiros, um lugar de terras férteis e parcialmente coberto por mata. A ilha localizava-se bem diante de Rio Grande, um importante centro urbano do período. De acordo com dados de 1833, os seis homens e as quatro mulheres que formavam o quilombo haviam fugido fazia mais de dez anos (MAESTRI, 2005: 300).
Como viviam muito próximos da cidade, inclusive de seus antigos senhores e das forças repressivas, os escravos do quilombo do Negro Lucas andavam armados e escondidos pela mata da ilha. Os quilombolas resistiram por um longo período até que, em 1833, a guarda nacional realizou uma emboscada e assassinou o Negro Lucas, líder da comunidade. Os demais membros do agrupamento conseguiram fugir e se dispersar, abandonando o local.

Quilombos urbanos nos dias de hoje

Atualmente se conhece a existência de cinco comunidades quilombolas no município de Porto Alegre: Alpes, Areal da Baronesa, Comunidade quilombola da Vila dos Sargentos, Família Fidélix e Família Silva. Existem também alguns quilombos urbanos em municípios vizinhos a Porto Alegre. É o caso da comunidade de Chácara das Rosas, em Canoas. Tais comunidades estão organizadas em uma coordenação regional metropolitana, compondo uma das seis coordenadorias regionais quilombolas da Federação das Associações das Comunidades Quilombolas do Rio Grande do Sul.
As comunidades de Alpes e Família Silva inicialmente estavam localizadas em regiões periféricas do município. Com o passar do tempo, no entanto, a cidade os alcançou. O desenvolvimento urbano trouxe a valorização de suas terras e conseqüentemente as pressões imobiliárias. O fato de tais comunidades ainda existirem é prova de sua capacidade de organização e resistência.
Dentre os cinco quilombos urbanos de Porto Alegre reconhecidos pela Federação das Associações das Comunidades Quilombolas do Rio Grande do Sul, quatro já estavam, em fevereiro de 2008, com processo de titulação em curso no Incra: Alpes, Areal da Baronesa, Família Silva e Família Fidélix. Destes, apenas o processo da Família Silva estava em etapa mais adiantada: as suas terras são neste momento alvo de ações de desapropriação instauradas pelo Incra a fim de possibilitar a indenização dos atuais proprietários e a emissão do título em nome dos quilombolas.

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