quinta-feira, 24 de junho de 2010

Uma cinderela africana

Entra em cartaz amanhã o drama “Flor do Deserto”
Nascida e criada no deserto da Somália, Waris Dirie escapou de um casamento arranjado aos 13 anos e de uma vida de penúria e submissão para se tornar uma top model internacional. Esse conto de fadas moderno é relatado em Flor do Deserto (2009), versão para o cinema da autobiografia da modelo que ficou célebre ao alertar o mundo para a prática bárbara da mutilação genital de meninas na África (leia abaixo).
Melhor filme europeu segundo o público do Festival de San Sebastián no ano passado, Flor do Deserto é baseado no livro homônimo da top Waris Dirie – em somali, waris significa exatamente “flor do deserto”. A adaptação para a tela feita pela diretora e roteirista americana Sherry Hormann é protagonizada pela etíope Liya Kebede – atriz que também atuou nos filmes O Senhor das Armas (2005) e O Bom Pastor (2006). Assim como a personagem do drama que entra em cartaz amanhã na Capital, a bela Liya também tem se destacado como porta-voz na luta pelos direitos das mulheres africanas: desde 2005, a artista é embaixadora da Organização Mundial da Saúde (OMS) para a saúde de mães, recém-nascidos e crianças. Lyia, 32 anos, também foi listada pela revista Time como uma das cem pessoas mais influentes do mundo em 2010.
Flor do Deserto começa com Waris perambulando por Londres, sem casa ou trabalho. Perdida na capital londrina, a jovem acaba conhecendo uma atrapalhada atendente de loja – interpretada pela atriz inglesa Sally Hawkins, ganhadora do Globo de Ouro por Simplesmente Feliz (2008). A espevitada Marylin acaba dando abrigo a Waris, que não fala inglês e anda coberta por trajes típicos de seu país. Indicada pela amiga, a garota somali arranja emprego de faxineira em uma lanchonete, onde ela conhece um famoso fotógrafo de moda – papel do excelente ator inglês Timothy Spall, encarnando um personagem baseado no fotógrafo Terence Donovan (1936 – 1996). Ao mesmo tempo em que batalha para entrar no mundo da moda, Waris relembra o passado no interior da Somália – revivendo episódios como a traumática mutilação genital que sofreu na infância em nome de uma tradição ancestral e a penosa fuga pelo deserto rumo à capital Mogadíscio e posteriormente a Londres.
Flor do Deserto apoia-se no carisma e na beleza de sua protagonista – Liya também é modelo e foi o primeiro rosto negro da marca de cosméticos Estée Lauder. Se Spall está à vontade na pele do fotógrafo que lançou Waris no mundo da moda, outros personagens parecem excessivamente caricaturais e aquém da capacidade de seus intérpretes: a despótica e egocêntrica agente de modelos vivida por Juliet Stevenson e a melhor amiga da imigrante somali – Sally repete o registro sem-noção da Polly de Simplesmente Feliz, mas desta vez sem o lastro dramático de seu papel naquele filme de Mike Leigh. Flor do Deserto emociona e choca com uma história de superação contra um destino revoltante – mas bem que poderia amenizar o sentimentalismo de algumas passagens, desnecessariamente enfatizadas pela trilha sonora melosa de Martin Todsharow.
Fonte: Jornal Zero Hora

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