terça-feira, 29 de junho de 2010

As Feras da Copa

A morte de Mandela

Este é o tema que mais apavora os sul-africanos nos dias de hoje, pois existe uma paz entre negros e brancos na África do Sul e no continente como um todo que, por mais que as estruturas políticas torçam o nariz, está calçada na figura e na liderança de Madiba, como é carinhosamente chamado o líder Nelson Rolihlahla Mandela. É impressionante o respeito que os brancos têm por Mandela, pois ele representa a pedra angular de um sistema social que, por conta de sua história presente e passada, tem tudo para produzir ódio e rancor. Esse respeito existe porque nenhum outro sul-africano sofreu mais do que Mandela os horrores do apartheid.
Foram 27 anos preso. Teve amigos e membros da família mortos. Mesmo assim, ele sai da prisão e dissemina um sentimento de perdão, compreensão e conciliação racial, evitando o que poderia ser o maior derramamento de sangue do nosso século. Por outro lado, o sentimento dos negros com Mandela é de amor, mas é um amor que vai além de qualquer coisa que já vi. Eles veem em Mandela uma figura de santidade, têm com ele um compromisso de fidelidade pessoal. O que ele pede, a nação faz. Hoje ele está com 92 anos, sua saúde está frágil, aparece e fala pouco. Este é o maior temor da África.
Quando Madiba morrer, é previsível que acontecerá uma erupção de sentimentos na África e alguns deles podem ser extremamente agressivos, pois não haverá mais o algodão entre os cristais. Em tom de brincadeira, ouve-se falar aqui que o dia da morte de Mandela será o “dia da faca”, com os negros invadindo as casas dos brancos com facas para degolar os racistas. Óbvio que isso não é sério, mas evidencia o clima de tensão quando o assunto é a saúde de Madiba. O paradoxo é que muitas oportunidades chegam à África do Sul nesta Copa. O mundo enxerga o país de outra forma. Uma onda de conflitos nos próximos anos poria em risco um possível futuro glorioso, coisa que nenhum país africano teve. O legado de Mandela é eterno, mas o próprio Mandela não é. E como será o desfecho disso só o futuro dirá.

Manoel Soares - Jornal ZH

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