terça-feira, 18 de maio de 2010

Antônio Vasconcellos Marques, precursor na promoção de politicas Públicas do RS


Gerações mais novas de Rio Grande não devem lembrar, tampouco devem ter ouvido falar do advogado Antônio Vasconcellos Marques. Falecido em 1988, aos 82 anos de idade, Antônio Vasconcellos Marques. Negro, gaúcho, um lutador em favor da igualdade racial e da valorização da população negra de Rio Grande. Nascido na cidade do Rio Grande, RS, no dia 5 de setembro de 1907, Antônio Vasconcellos Marques não conheceu seus pais. Foi criado por sua madrinha, dona Albertina, uma senhora pobre e já idosa. Estava iniciada ali uma caminhada de luta e de um final feliz e exitoso. 
O crescimento intelectual aflorou e o "seu Marques" ingressou na Alfândega de Rio Grande inicialmente como marinheiro. Galgando outros tantos postos, ele então passou a ocupar cargos de destaque no órgão público federal. A partir daí, ele teve nova visão e enxergou outros jovens, igualmente sem instrução, dominados pelas dificuldades do não saber e sem condições de conquistar oportunidades momentâneas ou futuras. Então foi empreendedor. Resolveu restituir-lhes a auto-estima e a cidadania. Convidou amigos, alugou salas, implantou ensino gratuito, assumiu todas as responsabilidades financeiras e materiais do empreendimento e durante 10 anos lecionou, cotidianamente, no turno da noite. Assim estava formalizada a Escola Marcílio Dias, cujo nome homenageava a bravura do marinheiro negro da nossa história. Constituiu-se na primeira escola noturna para adultos na cidade do Rio Grande. Mais tarde, com o apoio de amigos, conseguiu realizar o sonho do prédio próprio para a escola a qual hoje integra a rede estadual de ensino. Paralelamente a participação escolar, dedicou-se as sociedades recreativas locais que congregavam pessoas da raça negra, influenciando-as e induzindo-as para novas conquistas, qual seja o desenvolvimento cultural da juventude. Estas ações tiveram a finalidade de, mediante a participação dos jovens, dar sustentação e continuidade a estas sociedades. Os movimentos culturais se entrelaçaram ao dia-a-dia e orientaram as atividades da juventude negra da cidade do Rio Grande. Implantava-se uma mudança, um novo comportamento social. O batalhador Antônio Vasconcellos Marques tornou-se eminente orador. Passou a integrar os mais diferentes movimentos políticos, esportivos, sociais e políticos de Rio Grande, também de Pelotas e outras cidades do sul gaúcho.
Ingressou na Universidade Federal de Pelotas para cursar Direito. Objetivava dar continuidade aos seus princípios e a realização de um sonho. Aos 56 anos de idade, foi diplomado, transformando assim o seu sonho em realidade. Foi a maior vitória do Dr. Antônio Vasconcellos Marques, o Dr. Marques como era chamado por todos na cidade. Anos após, transferiu-se para Porto Alegre, onde residiu até o seu falecimento.
Para a família e amigos, a figura de Antônio Vasconcellos Marques é sempre lembrada como exemplo de superação. Para a especialista em Educação e integrante do Grupo Multiétnico de Empreendedores Sociais, filial Rio Grande do Sul, Franquilina Marques Cardoso, a figura de seu pai foi uma figura marcante. Um dos episódios que mais marcou foi a sua formatura, a qual ele dizia ter voltado a estudar para mostrar a seus filhos e a toda a comunidade negra que a liberdade só vem através dos livros e também sua atuação como presidente da Sociedade Recreativa Cultural Estrela do Oriente, em Rio Grande. O clube não existe mais, mas foi um marco na vida social da cidade. Um clube onde, segundo ela, seu pai pregava cidadania e valorização do cidadão negro. Um dos eventos que o clube fazia, e que vale ser lembrado, conta Franquilina, era o baile dos formandos. O evento comemorava a formatura de todos, não só nos cursos superiores, mas também no ginásio e no científico. Era sim a comemoração da conquista e da luta dos negros em favor do estudo.
Contar esta história vale a pena e emociona a todos nós, . É sim uma personalidade negra não só para mim, mas para toda uma geração que trabalha, sonha e batalha por um Brasil igual, um Brasil plural e um Brasil vivo, onde todos tem voz, vez e sua cultura e história respeitados.

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